Mea culpa no chutão cósmico - by Marta Aguiar

19:07:00

Mea culpa no chutão cósmico

A única coisa que escrevi sobre política, nestes últimos tempos, foi nesta semana. E só escrevi porque estava em árabe, e a cultura árabe é uma parte da cultura mundial que involuntariamente passou a constituir meu coração. E não pensem que porque está no meu coração, gosto disso de verdade. Gosto de muitas coisas e nada é de verdade. Tudo é contingente. Tudo é libidinoso.

A verdade é que não acompanho política, nem acontecimentos mundiais como olimpíada ou copa do mundo. Não acompanhar significa não ler, não assistir. Ignorar. Ser ignorante. Tudo o que sei chega até mim pelos malditos fogos de artifício, e, tendo escutado os fogos, sei que algo aconteceu. Então quando venho até o FB em busca de realizar meus mais recônditos e secretos desejos (que bom se eles fossem essa baixaria que você, que me lê, imaginou), descubro o que está acontecendo. 

A realidade não me interessa mais. Não me interessa mais saber se o golpe tá disfarçado de democracia, se pessoas humanas foram caceteadas pelos animais da polícia, não me interessa mais saber que refugiados perderam mais um familiar ou um amigo querido nas guerras que seguem sem trégua pelo mundo afora, não me interessa mais saber que não há alimento para todas as bocas miseráveis que dormem nas calçadas, não me interessa mais saber que não há abrigo e assistência para velhos e desequilibrados mentais, não me interessa mais saber que os animais continuam sendo sacrificados, porque acredito que não há como reduzir um prazer gustativo numa vida já tão carente de prazeres, não me interessa saber sobre vícios e viciados, porque não há como cortar os vícios nesse stress que não dá folga para o ócio e o lazer necessários para se ter uma vida saudável, não me interessa saber sobre minorias oprimidas, preconceitos raciais, feminismo, economia colaborativa, posicionamentos politicamente corretos e o diabo a quatro que há por trás de qualquer boa intenção.

Mea culpa no chutão cósmico

Alienei-me voluntariamente de tudo porque há em mim uma dor que me quer matar. A dor de ver a inconsciência, a ignorância e a debilidade humanas. Sou pretensiosa? Arrogante? Não. Deixei-me levar pela ignorância, pela debilidade e pela inconsciência, porque essa é a grande tendência da massa humana a que pertenço. Tá na metade do gen italo-ibérico-ariano nazi-fascista europeu a que pertenço.

Aprendi, muito recentemente, a rezar e a jogar pra Deus as minhas esperanças. Observar conjunções e oposições planetárias também ajudam. Adivinhação turca em borra de café. Meditação. Mandalas indianas. Dança de roda greco-celta-israelita. Afinal, o que seria da transcendência se a realidade se bastasse a si mesma? Entendi que a diversidade humana é tão bonita quanto desinteressante. Tão desprezível quanto miraculosa. Esse balaio terráqueo em que estamos metidos é mesmo a periferia da galáxia. Não se enganem aqueles que habitam as áreas centrais e nobres, quer seja do espaço geográfico, quer seja do pensamento. 

De um jeito ou de outro somos ou estamos na periferia. Nossa visão é relativa. Nossos acertos são relativos. Nossos amores são temporários, ainda que se pretendam eternos. A única coisa absoluta é o nosso aparente (assim espero, que seja aparente) desamparo e a nossa infinita ignorância diante da morte. Esse é o único clichê deliberado. Lugar-comum de onde não se pode escapar. É porque vamos morrer que chutamos o pau da barraca. Que se ralem os oprimidos, os reprimidos, os pobres, os animais maltratados, os fodidos de toda espécie. Meus minutos estão contados e mal sei o que fazer comigo, que dirá pensar nos outros.

Mea culpa no chutão cósmico

Mas uma coisa é certa. Eu hei de arder no inferno, porque a alienação que ora me protege voltará como bumerangue. É a tal da lei físico-espiritual da ação e reação. Mais cedo ou mais tarde, viva ou já desencarnada, terei que acordar. A lei severa da economia cósmica há de me cobrar. E não é dando esmola pra pobre ou devolvendo o troco errado pro caixa que vou me livrar. Migalhas generosas não servem. Não há anistia para a dívida e para os prejuízos causados pela inconsciência... nem para mim nem para a horda de zumbis a que resolvi me juntar. 

O chutão cósmico vai nos derrubar de cima do muro. Eu já posso pressentir. Sou sensitiva. Signo de água. Minha sensibilidade serve para me tirar a paz. Teremos que responder por tudo isso, eu e meus adoráveis comparsas.


By Marta Aguiar

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